Pra você não se confundir, quando eu escrever
UEX, estou me referindo à versão Linux. E quando for
UltraEdit, estou me referindo à versão para Windows, certo?
No mundo GNU/Linux existem vários editores de texto fantásticos. Alguns deles são, inclusive, mais velhos que os próprios sistemas operacionais. Estão aí o Vim e o Emacs, com décadas de estrada, que não me deixam mentir. Entretanto, essas duas incríveis ferramentas operam num nível que remonta aos primórdios da computação, pré-mouse e mesmo pré-interface gráfica, exigindo um nível de desprendimento muito grande por parte dos usuários neófitos, e nem todo mundo está disposto a reaprender uma nova maneira de fazer algo que, bem, deveria ser uma atividade corriqueira num computador.
Além disso, como já disse em
outras plagas digitais, a área de automação industrial é Windowscêntrica por natureza.
O UltraEdit é, com certeza, o editor de textos mais famoso do Windows (o Bloco de Notas é um brinquedo, e o Word, meu amiguinho, é um PROCESSADOR DE TEXTOS,
an other beast, como dizem os americanos).
Comprei uma licença assim que o software saiu em novembro do ano passado, e depois de utilizá-lo numa base diária, tenho alguns comentários a respeito. Estou usando a versão 1.1.0.0 no Ubuntu 9.10 (64 bits).
CODIFICAÇÃO DOS ARQUIVOS
Por default, o UEX exibe todos os arquivos como se tivessem codificação UTF-8. Mesmo aqueles que não tem essa codificação. Isso significa que em arquivos gerados com outras codificações (como a ISO-8859-1), os caracteres acentuados não são mostrados corretamente. E ainda há um efeito colateral: a Function List para de funcionar, a partir do primeiro caractere "estranho".
Para contornar o problema, existem, até agora, três alternativas:
1) abrir o arquivo de dentro do UEX e selecionar a codificação.
2) abrir o arquivo e, através do menu View > View As (File Encoding..) selecionar a codificação desejada.
3)
criar um script bash para fazer a chamada do programa, indicando que todo arquivo deve ser aberto/visualizado como ISO-8859-1 (ou a codificação que você preferir).
Particularmente, acho isso bem contra-producente, uma vez que a idéia de trocar diversas ferramentas por uma única é justamente ganhar produtividade. No Windows, o UltraEdit tem reconhecimento automático de codificação. Até o
Leafpad consegue reconhecer automaticamente a codificação dos arquivos! Se a IDM quer mesmo trazer toda a experiência do GNU/Linux para o UltraEdit, é melhor resolverem esse detalhe.
CONFIGURAÇÕES
O programa não memoriza as últimas configurações que fiz. Um exemplo simples: para editar código, eu desativo a quebra automática de linha (word wrap). Mas para editar textos simples, notas e outros agrupamentos de caracteres que não são necessariamente código para máquinas - coisa que faço com frequência, aliás - prefiro deixá-la ativada. Mas, basta fechar o programa para perder algumas dessas pequenas configurações. A partir do UltraEdit 14.00 é possível, inclusive, criar perfis de utilização diferentes, assim como importá-los exportá-los.
WORDFILE
Desde versões imemoriais, o UltraEdit trabalha com os famosos wordfiles, arquivos que contém as configurações para destacamento de sintaxe, "code folding", function lists e por aí vai.
Até a versão 14 do UltraEdit, o programa carregava um wordfile de cada vez, sendo cada wordfile capaz de armazenar as configurações para até vinte linguagens diferentes. Se, no pouco provável caso, você precisasse utilizar uma linguagem que não esteja entre as vinte pré-configuradas, basta alterar o wordfile, através de uma caixa de diálogo.
Mas a partir da versão 15, a IDW desenvolveu uma solução que considero mais esperta: agora, ao invés de vasculhar apenas um arquivo com várias configurações, o UltraEdit procura pelos parâmetros de configuração dentro de uma pasta. Então, ao surgir uma nova linguagem, basta criar um novo wordfile para ela e adicioná-la dentro dessa mesma pasta. Bem mais prático, pra quem tem que ficar trabalhando com vários tipos de linguagens e arquivos de configuração, o que, não por acaso, ocorre com a maioria dos robotistas.
Contudo, essa primeira versão do UEX, que foi lançado APÓS o UltraEdit 15, ainda manipula os wordfiles do jeito antigo. Embora não seja o fim do mundo, acho que esse era um recurso que já poderia ter sido adicionado.
Já na parte funcional, notei que, quando se altera o wordfile que está sendo usado, as alterações só são ativadas após se reiniciar o programa. Se não me falha a memória, no UltraEdit as mudanças são imediatas.
AUTO-COMPLETAR
O UEX ainda não tem o recurso de auto-completar de acordo com a linguagem. Só pra variar, o UltraEdit já tem.
ABAS COLORIDAS
Nas versões mais recentes do UltraEdit, arquivos com extensões diferentes são exibidos em abas com cores diferentes.
COMPARAÇÃO
Mais uma vez, existem ótimas ferramentas de comparação no GNU/Linux (eu uso o
KDiff3).
A IDM também produz o
UltraCompare, mas o UltraEdit sozinho é capaz de comparar arquivos através de uma versão
lite do UltraCompare, que vem "embarcada" no programa, e seria uma boa ter o UEX também ter essa capacidade.
DOCUMENTAÇÃO
A documentação, tanto no site, quanto na própria ajuda do programa tem alguns atalhos incorretos. Ou melhor, não indicados corretamente. É que existem várias possibilidades de layout de teclado (Gnome, KDE, Windows ou Emacs), e aqueles indicados na documentação equivalem aos do Windows, enquanto o layout que default, no meu caso, que uso Ubuntu, foi o do Gnome. O atalho para inserir bookmarks, por exemplo, que no Windows (e na documentação) é Ctrl+F2, no meu computador estava como Ctrl+D. Acho que, no caso do UEX, isso deveria ficar mais explícito.
BUGS
Ao tentar abrir um arquivo .dat que estava dentro de um arquivo zipado, o UltraEdit simplesmente travou.
Se o Compiz está habilitado, o UEX, comporta-se de maneira estranha. Às vezes, começo a editar um arquivo. Aí me lembro que a quebra de linha não estava selecionada (veja em CONFIGURAÇÕES). Então seleciono a quebra de linha, continuo editando o arquivo, e quando o texto chega na borda da tela e, teoricamente, deveria continuar na próxima linha, o programa simplesmente se fecha, sem salvar o meu trabalho. Na versão 1.1 isso ficou menos frequente, e ainda não consegui identificar um padrão. Mas, mesmo assim, não dá.
CONCLUSÃO
Confesso: depois de esperar
ansiosamente pelo lançamento do
UEX, fiquei meio decepcionado com as primeiras impressões que tive.
Continua sendo uma ferramenta muito superior à média, e houve bastante
progresso entre a versão 1.0 e a 1.1, mas ainda pode melhorar bastante.
O UEX está empacotado para quatro das principais distros GNU/Linux (
Ubuntu,
Fedora,
OpenSUSE e
Red Hat), 32 e 64 bits. Há também um
.tar genérico para outras distribuições.
No momento em que publico esse post, o preço do software é de US$ 49,95, com direito a um ano de upgrades.